O esquecimento

Fui esquecido pelos senhores do tempo, pelos senhores do amor e pelos donos da razão.

Perdi, por completo, o dom de fazer apaixonar, a capacidade de encantar, de prender. Em troca recebi a facilidade de me apaixonar, encantar e deixar-me acorrentar.

A lei do retorno caiu como uma adaga afiada sobre a minha cabeça, cortando o entendimento e dando-me as três vezes o sofrimento de já causei.

Rasga-me sangue impuro, que atravessa meu corpo na contra-mão das veias e para por um segundo esse coração que finalmente aprendeu o que é sofrimento da solidão, da carência... eis aí o esquecimento do amor.

Ama-me esquecimento e ao menos você lembre que existo, recorde-se que estou aqui a seu dispor...

Um elo formou-se em mim, ligação perfeita entre o tudo e o nada, um meio termo insuportável, as coisas estão tão no meio que já não existem, é a perfeita anti-matéria, o anti-sentimento.

Já não existe passado, é como se tudo fosse realmente nada, olho o que tenho (ou o que não tenho) hoje, pergunto de onde veio, e acho que nem Deus sabe quem os criou.

É como se o vento existisse e fosse proibido de soprar...